Cartão que meu marido fez com nossos gatos

Feliz aniversário para mim. Hoje completo 34 anos. 

Aniversário é sempre uma data de reflexão. Bem, pelo menos pra mim. Tem pessoas que fazem isso no Ano Novo e, pra mim, hoje é meu Ano Novo.

Eu me parabenizo pelo amadurecimento que alcancei, principalmente do último ano pra cá. Hoje, me enxergo como uma pessoa e não como uma doença e isso foi um processo longo. Me parabenizo por não ter desistido no dia 23 de dezembro, por ter lutado contra os efeitos da overdose, pois fui muito forte. Esse dia me assombra t-o-d-o-s os dias, mas me faz lembrar de todo o amor que eu tenho na minha vida, me faz lembrar o porquê de levar meu tratamento tão a sério.

Eu me parabenizo por ter aprendido a respeitar os limites das pessoas que são a minha rede de apoio e assim fortalecer as nossas relações. Percebo que hoje tenho uma relação muito mais saudável e cúmplice com todos eles. Eu me parabenizo por ter começado a meditar, pois isso mudou a minha vida e meu modo de ver a vida. Eu me parabenizo por me esforçar em momentos que eu sei que vou falhar, mas pelo menos tentar.

Eu me parabenizo por tirar forças do inferno pra fazer algo, quando muitas vezes não consigo fazer absolutamente nada, mas minha mãe insiste que vai me fazer bem e no final ela tem razão. Eu realmente me parabenizo por isso, porque tem vezes isso é uma conquista homérica. Porém, também me parabenizo por ter aprendido a respeitar os meus limites e hoje conseguir falar “não” ou “chega”, quando as bandeiras vermelhas aparecem e meu estado mental está em frangalhos e não estou aguentando mais determinada situação.

Eu me parabenizo por insistir em jogar videogame, mesmo sendo muito ruim. Jogo nos níveis fáceis ou jogos como Lego, porque de resto eu jogo realmente muito mal. Mas eu amo as histórias dos jogos e tento mesmo assim. Eu me parabenizo, mesmo dando um monte de preocupações pra minha mãe, por ser capaz de fazê-la rir com qualquer besteira.

Ilustração que a Joice Fadelli fez pra mim de aniversário

Eu me parabenizo por não ter cortado meu próprio cabelo nessa quarentena, muito menos ter raspado. Os riscos eram altos. Eu já quase raspei a minha cabeça de novo umas duas vezes, mas, contrariando a onda, eu não tive essa vontade. Eu me parabenizo por estar sóbria. E, garanto, isso foi muito difícil no início. E garanto também: faz toda a diferença num tratamento psiquiátrico, principalmente num tratamento pra transtorno bipolar. Minhas oscilações, até agora, foram mínimas.

Eu já não sei mais com o que posso me parabenizar, só sei que hoje em dia eu sinto orgulho de quem me tornei. Sou uma pessoa melhor comigo mesma e com os outros. Não acho que a vida vai ser mais fácil a partir daqui, porém sei que vou me respeitar mais daqui em diante. E isso vale mais que tudo.

Acho que nesse momento posso agradecer por ter pessoas tão maravilhosas na minha vida. Tenho amigos incríveis, que me dão suporte, me amam, mas que também nos divertimos muito. Tenho um marido que, mesmo de longe, é um companheiro maravilhoso e me acolhe com muito amor. Tenho uma irmã, que atura as minhas ligações inúteis, só pra acalmar as minhas crises de ansiedade, mas que também me faz gargalhar com besteiras. E agradecer à mamãe, por toda paciência e dedicação a mim. Uma mulher que mesmo nos meus piores dias, aqueles em que estou dando patadas e quando digo que me odeio, me trata com muito amor e compreensão e tenta, a todo custo, fazer com que eu me sinta melhor.

No último ano entendi que o amor é, de fato, a coisa mais importante na vida de uma pessoa. Sem amor, eu não teria chegado aonde cheguei, nem conseguido as conquistas que tive. O amor carrega outros sentimentos juntos. Bondade, carinho, zelo, gratidão. Falo aqui de novo da vulnerabilidade, porque somente com ela você é capaz de amar verdadeiramente uma pessoa. E acima de tudo, aprendi o amor próprio.

Cartão que veio na cesta de café da manhã que a Pri me enviou