Após reler meu primeiro texto sobre medicamentos, decidi falar mais um pouco sobre o assunto. Na época, eu ainda não tinha a menor noção do que estava acontecendo comigo, pois não tinha diagnóstico e mal podia imaginar a quantidade de medicamentos que viria tomar na vida. Atualmente tomo 6 medicamentos psiquiátricos. E vim falar sobre os efeitos colaterais e a importância dos exames de rotina.

Além dos remédios psiquiátricos, também tomo o propranolol, um betabloqueador que diminui meus batimentos cardíacos e faz com que eu tenha menos tremores por causa do lítio. Ele me foi receitado uns 2 meses depois que comecei a usar o lítio, pois eu estava derrubando líquidos dos copos de tanto que eu tremia. É claro que o fato de eu morar num lugar frio contribuía, mas eram tremores bem exagerados. Até hoje tremo muito. Não consigo tirar selfie com uma mão só, preciso das duas pra segurar o celular. Tenho espasmos nos pés e nas pernas. Mas nada se compara ao que era antes do propranolol. Eu tremia como se fosse morrer de frio, meu queixo batia.

Também na época do primeiro texto, eu não fazia ideia de que eu precisava fazer exames de rotina, porque a psiquiatra da época, simplesmente, não pedia.

Hoje, sei que exame de sangue, pra quem toma medicamentos psiquiátricos, deve ser feito, no mínimo, mensalmente. Para nós, mulheres, existem ainda mais fatores, como os hormônios. Por isso, é preciso ter esse check-up regular, junto com outros especialistas, como ginecologista e endocrinologista. Além dos exames de sangue, exames cardíacos e de imagens são recomendados, mas não tão frequentes quanto os laboratoriais.

Só com exames de sangue descobri que, com o uso contínuo de determinados medicamentos, minha prolactina ficou aumentada, creatinina alterada, tive deficiência de vitamina b12 e vitamina D.

Mas não vou negar que volta e meia ainda me bate aquela deprê de que terei que tomar remédios pro resto da vida. Tem dias que nem penso sobre isso, só tomo os medicamentos e nem racionalizo. Só que em outros eu fico pensando sobre como é a vida das pessoas que não precisam se medicar pra conseguir viver em sociedade.

Minha rotina é baseada nos meus medicamentos. Eu acordo cedo pra tomar os remédios da manhã. E acabo dormindo cedo porque tomo os da noite por volta de 20h e eles me dão muito sono. Eu já me acostumei, mas se parar pra pensar é um saco. Fico presa aos remédios em diversas esferas. Pra ficar bem, pra comer, pra acordar, pra dormir. 

Eu já deixei de beber por um período, algum tempo atrás, por estar preocupada com a interação entre o álcool e meus medicamentos. E, é claro, essa motivação não foi suficiente pra sustentar a minha decisão. Hoje estou sóbria por causa do transtorno, o que faz com que a minha força de vontade seja outra. Bebida alcoólica é um dos maiores inimigos pro portador do transtorno bipolar, aliás, pra qualquer pessoa que sofra de transtorno afetivo. Na bipolaridade, além de ser um depressor no sistema nervoso central, ele estimula as oscilações de humor. Pra quem toma medicamentos, não importa quais, a bebida rouba grande parte da ação deles.

Confesso que tem dias que acho a minha vida uma bosta, quando penso nisso tudo. Cheia de regras e limites. Mas eu hoje dia tento relaxar com uma meditação. Parece papo de gente zen, mas é papo de quem já ultrapassou limites e deu merda. Eu tento focar no aqui e no agora, e agradecer por tudo o que eu tenho.

Hoje sofro alguns efeitos colaterais por conta da dosagem das medicações. Sinto dores nas articulações e nos músculos, ganhei peso, acne pelo corpo. Por isso, estou de dieta, faço alongamentos diários e esfoliação no banho. Faço o que posso pra tentar ficar bem. Eu tomo 2 dos medicamentos mais indicados pro meu transtorno e não quero abrir mão deles. Aceito esses efeitos colaterais, mesmo que deixe a minha rotina mais complicada.

Eu nunca tive medo de remédio psiquiátrico. Tudo o que me deram, eu tomei, experimentei e se não funcionou, parei de tomar e troquei. Porém, a maioria das pessoas tem medo exatamente por causa dos efeitos colaterais. Eu acho que nunca tive esse problema, porque já tive momentos muito ruins nos quais tudo que eu queria era me sentir bem, logo, eu aceito qualquer tratamento que o médico disser que vai ser bom pra mim. É claro, por isso que eu falo que deve-se confiar plenamente no seu psiquiatra. Somente com uma relação de confiança mútua o tratamento vai realmente fluir.

As pessoas comparam muito quem toma medicamentos psiquiátricos, num caso crônico como o meu, com alguém com hipertensão ou diabetes. Porém, como disse uma amiga minha, essas pessoas não carregam estigmas. É parecido, mas, de longe, é diferente. Quando eu falo pras pessoas que eu tomo lítio, tem gente que fica sem ter resposta, outras conseguem relaxar e perguntam “Tipo uma bateria?”. Portanto, portar um transtorno é carregar estigmas em todo lugar. É quando se está mal, é quando vai ao psiquiatra, é quando toma medicamentos. A gente não consegue nem se tratar sem ser julgado.