Adelaide por Aline Hermann

Eu acredito que ter coragem pra recomeçar não é para qualquer um. Ter o desapego material das coisas que se deixa para trás, viver a ansiedade da expectativa e chegar no lugar novo (ou velho) e saber se colocar numa nova função ou ocupação. Tudo isso é doloroso e estressante, porém maravilhoso.

Recomeçar dá medo, porque você precisa abrir mão da zona de conforto, da segurança e se lançar à uma rotina completamente nova, uma rotina que você não sabe se vai dar certo, que só é um plano. Você precisa dar tudo de si para não deixar a peteca cair, pra tudo aquilo que você planejou pegar no tranco.

Eu não me vejo exatamente próxima da estabilidade, mas estou há 7 dias aqui em Copenhagen e meu nível de ansiedade já caiu drasticamente. E olha que eu tenho muita coisa pra resolver aqui. Sendo que só agora posso começar a pensar em resolver determinados problemas, pois meu resultado do teste de COVID-19 saiu e deu negativo. Eu não tinha sintomas, mas Andre e eu fizemos o teste por conta da minha viagem.

A cidade tem um ritmo completamente diferente, tudo é diferente. Os sons que entram pela janela do apartamento são diferentes. Tudo é mais calmo e silencioso. Aqui eu consigo pensar em nada. Consigo desacelerar. Eu fico sem aquela angústia constante que estava vivendo no Brasil.

Eu trouxe o meu gato comigo, do contrário, não estaria completa. Ele é essencial pra mim e sei que sou essencial pra ele. O Guaraná fez a quinta viagem internacional dele. É um gatinho viajante, com passaporte holandês. Foi muito estressante pra ele, mas ele aguentou bem. Cheguei exausta, porque são 8kg de gato para carregar pra lá e para cá, fora malas e mochila pesadas. Mas fiquei feliz dele estar comigo, pois não me senti sozinha.

Guaraná por Aline Hermann

Também estou recomeçando na minha casa, que construí com o Andre. Com os nossos gatos (Adelaide, Haroldo e Guaraná agora reunidos novamente), com móveis que escolhemos juntos. Voltar para casa é incrível, andar pela cidade que você escolheu morar é único. Saber que vai ver pessoas queridas é melhor ainda!

Eu sinto que foi necessária minha estadia no Brasil, mesmo com tudo o que aconteceu. Me sinto uma pessoa completamente diferente. Sei me amar mais, sei reconhecer e impor melhor os meus limites, aprendi a desconstruir a minha própria imagem. Me sinto mais saudável, mais forte, mais firme nas decisões e mais consciente do que é bom pra mim. No Brasil, eu vivi o meu pior. E dei a volta por cima, com suporte da rede de apoio e ajuda profissional. E agora aqui preciso estabelecer uma nova rede e encontrar novos profissionais.

Eu repito, ter a coragem de recomeçar não é para qualquer um. Eu vim pra cá pra dar a minha cara a tapa e me sujeitar a várias coisas complicadas como, por exemplo, um tratamento psiquiátrico em outro idioma. Mas vim, acima de tudo, pra viver a vida que sonhei pra mim, que desejo construir ao lado do meu marido.

Haroldo por Aline Hermann