L’hynose, les echos week-end por Marion Fayolle

Um dos maiores desafios que eu enfrento é tentar explicar pras pessoas que convivem comigo de que algumas coisas tão simples, como sair de casa para ir ao mercado ou até mesmo escolher a roupa que vou vestir, regularmente se tornam tarefas tão cansativas quanto correr ou levantar peso, porque sofrer de transtorno obsessivo compulsivo e ansiedade social faz com que uma decisão simples e rotineira se transforme em um suplício.

Darei um resumo do processo diário que é sair de casa até chegar no trabalho:

Depois de escovar os dentes e calçar os sapatos, arrumo a minha mochila e vou fazer xixi. Eu preciso sair imediatamente de casa, caso contrário terei que fazer xixi de novo, porque já vai ter dado tempo de ter xixi na bexiga e irei fazer xixi na calça quando estiver na rua já que eu não fiz xixi precisamente antes de sair de casa. Uma vez que passo pela porta, verifico pelo menos 2 vezes se realmente a tranquei e umas 3 vezes se não deixei a chave da galeria de arte onde eu trabalho cair quando guardei as de casa. Hoje em dia já não abro a bolsa toda hora, porque tenho medo de que as coisas caiam ou que alguém pegue algo, mas fico tateando por fora pra sentir os objetos no lugar. Entro no elevador e verifico se guardei o celular dentro da mochila, sendo que eu acabei de verificar junto com as chaves. Desço as escadas do metrô e entro sempre pela mesma catraca da estação. Não gosto de usar outra catraca. Quando uso outra catraca, porque aquela está desligada ou tem muita gente, me sinto na obrigação de mudar também a escada pela qual vou descer. Normalmente uso as escadas comuns, afinal assim já queimo calorias, porque estou gorda, mas caso eu desça pela escada rolante porque entrei pela catraca errada, me sentirei culpada por desperdiçar um tempo que eu poderia estar queimando calorias. Entro no vagão das mulheres(sempre) e só me sinto confortável se vou na ponta do vagão. Me sinto exposta e vulnerável no meio do vagão. Durante todo o trajeto eu verifico inúmeras vezes se meu celular está na mochila. Eu não consigo nem calcular quantas vezes isso acontece. Saio do trem e verifico se meu celular caiu da minha bolsa no vão entre trem e plataforma e sigo para a escada comum, pelo mesmo motivo de querer queimar calorias já que estou gorda e eu não quero que as outras pessoas achem que estou gorda porque prefiro usar escadas rolantes. Eu não uso a mesma saída do metrô em dias consecutivos. Tenho medo de ser perseguida ou de alguém perceber que saio sempre no mesmo horário pela mesma saída do metrô. Por isso, alterno as saídas. Enquanto eu ando na estação, verifico mais algumas vezes se meu celular está no mochila e coloco a chave da galeria no bolso da calça. Até chegar na porta da galeria, além de verificar se o celular está na bolsa junto com as chaves de casa, também vejo se a chave da galeria caiu do meu bolso. Enfim, chego no trabalho.

Diagnostiquer les troubles mentaux por Marion Fayolle

Esse só é um exemplo do que acontece na minha cabeça quando só estou andando ou estou com cara de paisagem no transporte público ou até mesmo tendo uma agradável conversa com alguém. Eu tenho pensamentos obsessivos e ansiosos o tempo inteiro. São raros os momentos do meu dia em que consigo focar em uma coisa e não deixar qualquer outro pensamento afetar aquilo.

O que eu descrevi acima é meu estado normal, meu estado controlado de raciocínio, porque quando estou em pico de ansiedade as vezes as situações prováveis na minha cabeça envolvem colisões de trens, ataques terroristas, pessoas me batendo e outras coisas bem surreais de acontecer e como resposta meu corpo responde com coceiras, estalar dedos e puxar cabelo da nuca.

Me requer um esforço monumental não deixar esses pensamentos correrem solto e colocar em foco o que eu preciso resolver no momento. É como organizar um cômodo entulhado com uns furões correndo loucamente entre as coisas e derrubando tudo no chão e você tentando colocar tudo no lugar enquanto eles derrubam tudo de novo. Usando essa analogia, eu sei que preciso em algum momento não me importar mais quando uma coisa ou outra cair por causa dos furões. Acidentes acontecem. Não posso controlar tudo. Mas é aí que entra a compulsão do transtorno: eu simplesmente não consigo parar de fazer isso.

E é por isso que eu tenho tanta dificuldade em determinadas situações sociais pra me sentir à vontade e, como é uma coisa que ninguém vê, é complicado entender que me sinto como se estivesse fisicamente inapta a me mexer, a andar, a respirar no meio das pessoas. Eu acredito que se todos lembrarem que as outras pessoas podem estar vivendo uma batalha épica para simplesmente entrar numa estação de metrô, com certeza seríamos seres humanos mais saudáveis.