Este texto pode conter gatilhos de suicídio.
Recomendo como trilha sonora Pink Moon do Nick Drake para esse texto. E pra vida.
Nesse momento as coisas não estão fazendo muito sentido. Ontem eu vi Joker e a frase que mais marcou foi “que a minha morte faça mais sentido que a minha vida.” Eu queria que esse texto não tivesse gatilhos, mas é impossível fazer isso. Cheguei num estado, num nível onde tudo se tornou pesado e cru demais. Eu tenho esse blog no intuito das pessoas se identificarem comigo e não se sentirem sozinhas. Ou quem sabe as pessoas verem a gravidade do transtorno, ou simplesmente terem noção do que é uma doença mental.
O fato é que doença mental mata e quase me matou na segunda feira da semana do Natal. Pela terceira vez eu tentei o suicídio. Eu realmente quis morrer e quase morri. Tive 3 paradas cardíacas devido a uma overdose de medicamentos. Não vou falar do ocorrido em si, porque não é meu intuito. Esse texto é pra falar da sobrevivência.
Hoje estou em observação, mal saio de casa e quando o faço é acompanhada. Meus medicamentos estão controlados, não estão comigo. Minha rotina é automática, segura. Semana que vem poderei sair com meus amigos de novo. É isso ou internação.
Estou sóbria e muitas vezes quis beber até esquecer meu nome. Aliás, sinto vontade de beber quase todos os dias, porque tenho vontade de anestesiar essa dor, essa culpa, essa angústia. Mas não posso beber não só porque me deixaria mal, mas porque a minha creatinina está elevadíssima por conta do lítio.
Choro todos os dias, grito todos os dias. Minha cognição está uma merda, não consigo ler, não consigo ver um filme, um Brooklyn Nine-Nine. Me sinto burra, um peso, um problema que deu errado. E aí lembro que me falaram esses dias que eu deveria deixar meu transtorno guardado no armário, não dominar a minha vida. Como? Se o transtorno domina a minha vida? Eu sou o transtorno. Não posso diluir isso. Tenho que dominar os sintomas e tentar viver a minha vida da melhor maneira possível. Mas até lá eu vou sofrer e vou sangrar com ele.
Nesse momento estou com um circo dos horrores dentro da minha cabeça. Todo e qualquer esforço que eu faço para melhorar eu faço por amor, porque o que aprendi no dia 23 de dezembro é que sou amada. Por isso tenho dito aos ventos que amo as pessoas, mesmo que essas pessoas não me respondam de volta. Pelo menos eu disse. E não há força maior nesse mundo que o amor. Hoje estou viva por causa do amor. Porque a escuridão que carrego dentro de mim é imensurável, mas o amor que sentem por mim é ainda maior.
Eu adoraria terminar esse texto falando que estou melhor, que estou bem. Mas não estou. Eu só estou viva. Sobrevivendo, lutando contra a minha doença, dando o meu melhor. Esses dias de nada, de tédio, estão sendo muito difíceis, mas percebo que são importantes pra minha família. E esses dias são recomendações médicas, afinal. “A gente primeiro sara, depois trabalha”, já diria minha querida Sylvia Plath.
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