Eu quero escrever esse texto desde novembro do ano passado, mas desde então me faltavam palavras. Retornar ao Brasil, ao Rio de Janeiro, foi fácil e difícil ao mesmo tempo. Fácil porque voltei pra casa, pra minha família e amigos, pra minha cidade. Estou falando meu idioma, o que é uma sensação única. Porém foi extremamente difícil me despedir da família que tenho lá, de Copenhagen e das amizades que construí.
Porém nunca estive tão próxima da estabilidade como estou agora. Louco escrever isso depois do último texto, não? Mas é a verdade. Mudar a minha rotina, meus hábitos e ter minha rede de apoio por perto foi crucial pra isso. Mas acho que vou dar o mérito disso à minha mãe. Que mulher, senhoras e senhores. Ela aguentou uma barra e tanto. Me colocou na linha, segurou a minha mão e me segurou pelo cangote pra tudo dar certo. Sem ela eu não estaria com essa condição mental que estou agora.
É claro que começar uma faculdade e ocupar meus dias com estudos fez uma diferença brutal. Beleza que eu seja a tia a da sala, porque o resto da turma tem no máximo 20 anos e eu plena com meus 33 e, por isso, sou excluída. E também tenho dificuldades pra acordar cedo por conta dos medicamentos que tomo à noite, mas, salve mamãe, que acorda antes e prepara café pra mim todos os dias, só pra garantir que eu vá.
Quando digo que mudei meus hábitos, digo que me alimento melhor(mais inclusive), durmo em horário regular e estou sóbria. A sobriedade foi extremamente importante para esse processo. Antes eu me destruía com álcool e não media as consequências. Não pensava que é o maior depressor do sistema nervoso central e que afetaria na eficácia dos medicamentos. Sem falar nas paranóias e na ansiedade que vinham nos dias seguintes. Fora que gatilha a hipomania. Também estou cuidando mais de mim, fazendo máscaras(capilares e faciais) e usando e abusando do plano de saúde.
A única coisa que não estou muito feliz é que ganhei mais peso que o desejável. Mas oscilações de peso é uma coisa bem comum no Transtorno Bipolar, principalmente quando se sente mais estável. A estabilidade faz com que a gente se alimente de maneira correta ou um pouco mais, afinal a ansiedade existe sempre. Quando estou hipomaníaca ou deprimida, meu apetite fica severamente reduzido.
Voltar pro Brasil foi traumático, mas vejo que foi essencial. Eu estava paralizada na Dinamarca, mesmo tendo a faca e o queijo na mão. Há algo aqui que me move, que me dá forças. Acredito que falar, escutar, ler e escrever em português seja a base dessa diferença. E é óbvio, ter a rede de apoio que tenho aqui é insubstituível. Tem sido muito reconfortante fazer meu tratamento psiquiátrico no meu idioma e ter terapias presenciais. Recomeçar é difícil, mas sentir-se morta por dentro é ainda pior.
0 Comments