Estou em Copenhagen há 2 meses e me sinto adaptada à cidade. No início, foi um choque ver tantas pessoas na rua, vivendo normalmente depois de 3 meses de quarentena restrita no Rio de Janeiro. Tive dificuldade em conseguir sair sozinha, mas algumas vezes saí na marra (e com ajuda do rivotril) pra resolver algumas coisas.

Como eu disse, a vida está normal aqui. As pessoas estão nas ruas sem máscara, exceto nos transportes públicos e no aeroporto. Alguns estabelecimentos estão com algumas regras de distanciamento social, por exemplo bancos e farmácias. O único lugar que eu fui que precisei usar máscara e seguir um protocolo de segurança foi na embaixada alemã.

Fazer essa mudança pra cá não foi fácil. Meu estado mental no Brasil estava impraticável e com muita força, suporte e medicação eu consegui realizar toda a burocracia que eu precisava e a viagem em si. Viajei em plena pandemia com meu gato e foi bem difícil.

Cheguei aqui e tive que recomeçar tudo. Criei um quadro com tarefas que eu precisava fazer para não ficar perdida e ainda tenho algumas coisas pra terminar. Só agora tenho consulta marcada com o psiquiatra, porém só no final de outubro. A lista de espera para novos pacientes é enorme, eu meio que já esperava isso, mas esperava resolver a primeira parte da burocracia antes. Tive que pedir um documento pro psiquiatra com quem eu vinha me tratando anteriormente e isso demorou semanas. Conversei com a minha médica de família e consegui meus medicamentos, pois os que eu trouxe comigo vão acabar em breve.

Essa questão me gerou uma ansiedade enorme, pois eu não sabia se ia conseguir os medicamentos e tinha pra mim que iria ficar sem meus remédios até a consulta psiquiátrica. Por sorte tenho médicos muito legais na minha clínica e eles aceitaram a carta da minha psiquiatra brasileira e me deram o que o preciso numa boa.

De qualquer forma, isso tudo abriu um quadro de insônia. Mesmo que eu não pensasse exatamente no problema, ele estava lá na minha mente. E sono desregulado é ótimo pra bagunçar o humor. Tem dias que acordo ótima, mas tem dias que acordo péssima.

De um modo geral, eu estou bem. Me sinto tranquila, ansiedade controlada. Porém com alguns dias ruins. Me sinto deprimida em alguns dias. Nesses dias, tiro forças da alma e tento me movimentar pra não deixar a peteca cair. Faço coisas simples, como cuidar da casa, ir ao mercado, reciclar o lixo, tomar um banho maneiro. Porque dentro da cabeça é um circo dos horrores e tento eliminar esses pensamentos de alguma forma.

E ainda tem meu joelho direito. Como uso uma dosagem muito alta de quetiapina, um dos efeitos colaterais é enfraquecimento muscular e nas articulações. Por causa disso, eu estou com o joelho direito completamente comprometido. É como se eu tivesse lesionado. Ele dói à toa, comigo sentada. Quando eu levanto me sinto uma idosa.

O que nos leva o fato de não conseguir fazer o exercício físico que me propus a fazer. Tem dias que a dor no joelho é insuportável e nem pensar vou praticar yoga ou caminhar no parque. Acabo ficando em casa, jogada no sofá, acumulando energia. E eu preciso gastar essa energia porque não quero me medicar mais, pois já me sinto apática o suficiente com os medicamentos que estou tomando.

Enfim, essa é a minha vida atualmente. Demorei pra escrever porque acho que só agora estabeleci uma certa rotina na minha vida, mesmo que instável. Falta muita iniciativa da minha parte pras coisas, mas nem sempre eu consigo tomar. Eu comemoro as pequenas vitórias que eu conquisto, como sempre fiz. Vejo progresso, mesmo que lento, no que estou fazendo. Não quero dar um passo maior que as pernas, porque sei que posso acabar enfiando os pés pelas mãos.