Leio muitos artigos sobre a dificuldade de se manter relacionamentos uma vez que sofre de Bipolaridade. Não é só relacionamento afetivo, mas qualquer relacionamento. O transtorno nos prega peças na hora de interagir com as pessoas, quando estamos em um dos humores ou oscilando.

Quando estamos deprimidos nos isolamos, perdemos o gosto pela vida, o apetite pelos nossos amores, pela comida. É difícil sair de casa e se interessar pelos assuntos que as pessoas nos trazem. Já quando estamos na fase maníaca ou hipomaníaca nos tornamos agressivos(às vezes fisicamente, mas na maioria das vezes verbalmente), eufóricos, paranóicos e impulsivos. Isso significa que na maioria das vezes falamos mais que a boca e ficamos presos em pensamentos intrusivos. Sem falar nos comportamentos de risco. 

Nem sempre as pessoas ao nosso redor conseguem compreender que isso é motivado por fatores químicos, que muitas vezes esses impulsos e vontades não vão passar com uma meditaçãozinha, um cházinho ou simplesmente ficar quieta no quarto escutando música ou assistindo Friends. Precisamos estar com a medicação em dia, indo à terapia, nos alimentando corretamente, dormindo bem, fazendo um exercício físico. Mas acima de tudo, medicamentos corretos e tomados regularmente. Manter o transtorno bipolar sob controle não é fácil, mas não é impossível. E é preciso que aqueles que nos cercam nos ajudem, na medida do possível.

E se relacionar afetivamente com uma pessoa que sofre de Transtorno Bipolar requer paciência e compaixão. É preciso entender que estamos nos conhecendo o tempo todo, conhecendo os limites da doença e identificando sintomas constantemente. Terão momentos que falaremos, praticamente, só disso. A nossa libido fica alterada, às vezes pra mais, às vezes pra menos. 

Vejo muitos relatos de pessoas que tiveram relacionamentos destruídos por causa da doença. Seja porque o outro não soube lidar, seja porque a própria pessoa não souber reconhecer seus limites ou não soube pedir ajuda de uma maneira que a(o) parceira(o) entendesse. Também há relatos de pessoas que estavam tão longe da estabilidade que agrediram fisicamente um familiar ou colocaram fogo na casa ou destruíram um cômodo inteiro. 

Tudo é uma questão de limites. Para os dois lados. Para quem sofre do transtorno é preciso reconhecer que dormir bem, comer bem, não encher a cara, não estar em multidões e outras coisas são essenciais para o bem estar e pedir que tudo isso seja respeitado. E para a(o) companheira(o) apontar quando os sintomas aparecem, no início, para que não seja machucado de alguma maneira e, claro, para que a situação não vire uma bola de neve. É muito comum não enxergarmos a chegada dos sintomas, por isso é tão importante termos a rede de apoio. 

Eu estou num relacionamento há 4 anos e 5 meses e, juntos, entendemos um pouco sobre tudo isso todos os dias. Eu recebi meu diagnóstico no meio do relacionamento e tudo o que aprendi sobre o assunto foi com meu marido ao meu lado. E o que eu posso dizer é que ninguém nasce sabendo ou está pronto pra isso. Seja pra quem recebe o diagnóstico, seja pra quem é rede de apoio. Meu marido foi e é incrível nas minhas loucuras de impulsividades ou nas minhas crises de ansiedade. Ele faz o que pode, dentro das limitações dele para me entender, me acolher e me ajudar. Ele é a minha âncora, meu norte. 

Ele viu o meu pior. E mesmo assim está do meu lado, me amando e me achando maravilhosa. Ele continua querendo construir um futuro comigo, continua me querendo e me amando do jeito que eu sou. Acredito que eu tenha muita sorte de ter alguém assim, porque independente de transtorno, isso é raro. Temos uma família multiespécie linda, mas uma família de qualquer forma. No momento estamos separados, porém juntos. Ele na Dinamarca e eu no Brasil. Nossos gatos foram divididos. Mas o que importa é que estamos olhando para o mesmo caminho no futuro e nele estamos um com o outro.