Meu corpo, minha mente, é tudo uma máquina. Ela precisa de manutenção para funcionar corretamente. As engrenagens precisam estar lubrificadas, a parte elétrica revisada. Lamentavelmente, meu cérebro já veio com um defeito de fábrica e preciso tomar meus medicamentos regularmente para manter os níveis químicos nos ideais.

Quando tudo está regularizado, o ambiente está favorável e meu cérebro está comportado (porque ele pode mudar todos os níveis químicos do nada. Raro, mas pode acontecer), eu me sinto um ser humano pleno e não uma máquina. Eu danço e canto, faço piadas. Leio livros, estudo, falo normalmente com as pessoas.

Mas como eu disse, isso depende do ambiente estar favorável. E pra lá da última semana, eu pifei. Eu vinha lidando bem com as minhas frustrações e decepções. Mas alguma coisa mudou. Já estive na beira duma virada maníaca, já permeei a zona do suicídio.  Eu até escrevi um post super positivo anteontem, mas o dia foi arruinado por uma crise no fim da tarde e passei o resto do dia pensando em morrer. Resumo da ópera: meus medicamentos foram alterados. Consideravelmente alterados. 

E nesse momento eu estou sentada num vazio. Num grande vazio oco. Estou exausta pelo dia de ontem. Assisti à aula e passei o dia conversando sobre questões do que foi ensinado com meus colegas de turma, estudando, tentando aprender um assunto super difícil. E no fim, não consegui entender a porra do conceito. Que desânimo.

Coisas boas aconteceram durante o dia, mas não consigo olhar pra elas. O peso e força das coisas ruins são muito maiores. Esmagam qualquer fio de esperança de melhorar meu dia.

Tem uns 3 dias que voltei a pensar naquele dia. No-dia-que-não-deve ser-nomeado.

Eu olho pra minha casa agora e lembro de quando aconteceu e ela parecia diferente naquele momento. Eu acho que tudo estava diferente, na verdade. A iluminação, as cores, a privada. Eu ainda não falei sobre isso de verdade. E não vai ser aqui que vou falar. É pesado demais.

Mas eu fico pensando nas pessoas que me atenderam no UPA e se eles estão bem nessa pandemia, porque todos foram tão bons comigo. Torço muito pela segurança deles nesse momento.

Por enquanto é como se estivesse afundada numa piscina e só estivesse com os olhos e o nariz do lado de fora, com os braços soltos, meio boiando. Essa é a sensação que eu estou sentindo. A apatia é tão grande que eu não me importo mais com as coisas.

Talvez hoje, amanhã, sei lá, seja melhor, afinal isso só seja uma adaptação medicamentosa. 

Ou não. Pode ser uma falha no sistema mesmo.