Toxic Spring por Antoine Doré

Eu falei por alto no outro post sobre a quarentena, mas quero falar um pouco mais da rotina real da quarentena com o Transtorno Bipolar.

Eu levo a minha rotina, com relação ao meu tratamento, bem regrada. Tomo meus remédios no mesmo horário, me alimento nos mesmos horários e durmo pelo menos 8 horas por noite. Mas isso não impediu de vir uma tempestade. O fato do isolamento, da pausa da faculdade e depois do retorno da faculdade, tudo isso me deixou muito ansiosa. Fora fatores íntimos que trato na terapia.

Sinto saudades da minha sobrinha, que está cada vez mais esperta e falando coisas engraçadíssimas no telefone pra mim. Sinto saudades do meu marido, que não faço a menor ideia de quando vamos nos ver de novo. Sinto saudades de ver meus amigos, de ficar jogando conversa fora à toa, tomando café.  Tudo isso pesou e somou com o fato de que essa etapa nova da faculdade, o bicho está comendo e estou estudando muito.

Resumindo: meus medicamentos foram aumentados e estou levemente sedada, porque eu estava próxima de uma virada maníaca. Eu já estava ficando agressiva, impulsiva, completamente eufórica. Eu estava dormindo pouquíssimo.

Tem 2 dias que me sinto melhor. Ainda com dificuldade de concentração, porém funcional. Minha cabeça literalmente dói quando leio muito, mas pelo menos estou conseguindo estudar. Não fico pensando em trilhões de coisas ao mesmo tempo nem fico suando parada de tanta adrenalina correndo no corpo.

Nature’s Autumn Books por Antoine Doré

Todo mundo está mal por causa da quarentena. Só não está afetado quem tem sangue de barata. Não conheço uma pessoa que não esteja sofrendo de ansiedade, mesmo aqueles que não sofriam antes. Porém, para nós que sofremos de Transtorno Bipolar somos predispostos a ficarmos ansiosos ou desestabilizados, por uma questão química cerebral. Não só quem sofre de TAB, mas de outros transtornos mentais. A ausência de contato presencial no tratamento com o psiquiatra e o psicoterapeuta também é um fator a ser levado em consideração.

Por causa da quarentena, os sintomas dos humores foram bem desagradáveis pra mim. Quando estive mais maníaca fiquei com muita energia dentro de casa, tive vontade de beber, de me dopar, seria capaz de ir à rua pra comprar bebida e ignorar o isolamento. Já nos dias que estive deprimida, parei de me cuidar, não tomei banho, não me alimentei direito e fiquei jogada na cama o dia inteiro.

Dicas:

  • Faça uma rotina. Acima de tudo. Tome seus medicamentos nos mesmos horários, alimente-se nos mesmos horários e tenha uma boa noite de sono. Isso é essencial.
  • Procure tratamento online. Tanto psiquiátrico quanto de psicoterapia. Se precisar de indicação, fale comigo por aqui que eu te recomendo.
  • Mantenha contato sempre com sua rede de apoio. Mande mensagens, ligue, faça videochamada. Crie a rotina de ter o contato diário com as pessoas que te acolhem e te fazem bem.
  • Não beba bebida alcoólica. “Ah, mas, Aline, que chatice! Larga de ser careta!” Eu rebato com “O poder destrutivo do álcool, segundo a médica, vem da capacidade que essa substância tem de provocar lesões em tecidos adiposos (gordura). “E o cérebro humano é todo revestido de tecido adiposo”. Ao atacar esse revestimento, diz Ana Beatriz, o álcool desencadeia um processo inflamatório no cérebro, alterando sua bioquímica e as transmissões elétricas entre as sinapses (as ligações que unem os neurônios). “No primeiro momento, ele relaxa. No segundo, provoca euforia. No terceiro momento, vem a depressão. E, se a pessoa não parar de beber, o álcool leva ao coma.” (Leia o resto da matéria aqui)
  • Mime-se. Tome banhos quentinhos (agora que esfriou), use um creme hidratante, corte as unhas dos pés, use máscaras faciais caseiras (receitas aqui)
  • Exercite-se. Olha, o que não falta nessa internet é aula de exercício físico. Aula de yoga, de alongamento, de dança. Porém, recomendo essa daqui:

O Transtorno Bipolar é uma doença que não tem cura, porém tem tratamento. Portanto é muito importante fazer a manutenção do tratamento para não deixar com que as coisas rolem ladeira abaixo. Como eu já disse aqui uma vez, é trabalhoso tomar conta do transtorno, é como cuidar de uma criança pequena que está sempre prestes a enfiar o dedo na tomada e você tem que ir lá correndo tirar. Óbvio que tem momento que o andar das coisas fica mais suave, mas de qualquer forma, tem que estar em alerta sempre.

Quando eu tive minha crise há duas semanas, depois de meses, parecia que era a primeira, porque eu tinha esquecido como é ficar com taquicardia, com falta de ar, com sensação de que estou morrendo. Eu chorava copiosamente e tentava arrancar meu coração do meu peito. E ficava mais arrasada por estar daquele jeito, só pensava “de novo não”.

Mais uma vez agradeço à minha mãe por ser a mais compreensiva, paciente e amorosa nesse mundo. Se não fosse por ela eu tava enterrada na caixinha dos gatos, com certeza. Ela que me põe de pé, literalmente, todos os dias. Beleza que às vezes ela me liga do quarto dela pra me acordar, mas ela me acorda.

Nature Outlook: Influenza por Antoine Doré