A quarentena puxou o tapete de quase todas pessoas que eu conheço. Eu digo quase todas porque tem algumas que não falam abertamente sobre saúde mental comigo e não posso afirmar que estejam pirando com o que estamos vivendo.

Segundo a minha psiquiatra, estudos deveriam ser feitos sobre a semana retrasada, pois o número de casos de pessoas surtando aumentou muito. E eu me vejo nesse bolo.

Eu tive um insight quase que ridículo numa manhã. Cheguei no quintal e pensei “Nossa, essa manhã parece manhã de Copa do Mundo” e aí caiu a ficha. Aquela do Laerte, sabe? A grande ficha. Comecei a pensar no fato que as Olimpíadas foram afetadas por causa da pandemia, que o mundo todo está modificado e que estamos em quarentena, por causa de um vírus. Parece ridículo isso ter acontecido a essa altura do campeonato, mas eu entrei num estado catatônico. Passei o resto do dia apática e decidi dormir por algum tempo, pois não me interessava por nada.

Eu fiquei 6 semanas sem sair de casa. Minha mãe compreendeu a minha fobia social e não me obrigou a sair nesse período, mas isso me alienou um pouco. Sexta-feira fui à rua duas vezes em horários diferentes do dia para resolver burocracias em cartório e levar o Guaraná no veterinário. No final do dia eu estava exausta. Parecia que eu tinha apanhado. Tudo bem que carregar o Guaraná é cansativo, pois são 7kg de gato, mas mesmo assim, o fato de ter que sair com mil aparatos (luvas, máscara, álcool gel) e voltar e lavar tudo. É tudo muito exaustivo.

No dia do meu insight, eu ficava repetindo “A quarentena está me sequestrando”. E é isso. A quarentena está nos sequestrando. Não podemos mais ter válvulas de escape como um café com amigos à tarde ou um barzinho com amigos. Estamos levando porrada atrás de porrada sem poder espairecer, somente podemos reclamar nas redes sociais, o que apenas nos gera mais ansiedade.

Eu, hoje em dia, fico poucos minutos em cada rede social. Do contrário, fico deprimida a ponto de acabar com meu dia. Passo mais tempo mandando mensagens pros meus amigos perguntando como eles estão, porque isso sim faz alguma diferença pra mim. 

Profissionais da área de saúde mental apontam que haverá uma pandemia, em paralelo ao COVID-19, de doenças mentais. Muitas pessoas que sofrem com depressão, ansiedade e outros transtornos estão procurando ajuda por estarem no limite.

Mais uma vez, me sinto grata e sortuda e de ter o suporte que tenho, tanto da minha família, quanto profissional. Em momento algum fiquei sem tratamento ou suporte. E ainda assim, entrei em parafuso.

Acredito que a quarentena fez muita gente repensar na vida, sobre o que querem, o que estão fazendo, o que os faz feliz. Acho que acabei refletindo sobre isso também, no final das contas. Então, por um lado a quarentena foi positiva, pois me deixou mais próxima de que realmente quero pra mim. Mas muitas pessoas não querem ter esse questionamento, não querem saber de si próprios, porque isso é sair da zona de conforto. Logo, estão bugando. Entrar em conflito com os próprios fantasmas e traumas, dói muito. E só quem está aberto a isso é que aceita o desafio.

Nós estamos exaustos dessa quarentena instável e polarizada. Acho que isso é o que deixa tudo pior. Porque o isolamento já muito difícil, mas não saber quando isso vai acabar ou se estaremos seguros, é enlouquecedor. Já é muito difícil não ter a vida como era antes da pandemia, com liberdade. Mas essa incerteza é o que tem levado às pessoas a ficarem completamente sem prumo.