Em novembro do ano passado fez 3 anos que recebi meu diagnóstico de Transtorno Bipolar. Eu lembro bem do momento que as palavras saíram da boca da psiquiatra, lembro de dobrar o laudo que ela fez para eu trazer para o meu novo psiquiatra aqui na Dinamarca e colocar na bolsa. Depois peguei um ônibus para voltar para casa e o mundo estava girando. Foi como tomar um soco no estômago.

Foi como uma curva: primeiro o diagnóstico me moldou, depois tive que me desconstruir e voltar a ser eu. Foi inevitável. Comecei a entender meu comportamento ora errático ora tenaz do passado. E me bateu o medo de coisas ruins acontecerem comigo. De perder o controle de mim mesma, de voltar a repetir determinadas atitudes.

E isso só aconteceu porque transtornos mentais ainda são tabu. Ninguém fala corretamente sobre eles. Eu fiquei tão impactada na época exatamente pela falta de conhecimento sobre a doença. A psiquiatra que me tratava na época também pecou em não conversar comigo e explicar no que implicava sofrer de Transtorno Bipolar. Corri atrás de informações por conta própria.

Por isso o dia de hoje é tão importante. É um dia em que devemos falar sobre o transtorno para todos e dizer que somos muitos, que não é desvio de caráter e que há tratamento. Tratamento que muitas vezes é duro, injusto, porém é o único caminho para estabilidade. 

E o que é o tratamento? É se medicar, conforme a prescrição psiquiátrica, fazer uma boa terapia, ter uma boa rede de apoio e ter uma rotina saudável. Quando eu digo rotina saudável, eu me refiro a uma boa noite de sono, se alimentar de forma adequada e, de preferência, manter a sobriedade. Álcool e drogas podem ter efeitos tanto com o transtorno, sendo gatilhos para mania ou um surto psicótico, como interações com os medicamentos. 

E por que às vezes ele é injusto? Porque o Transtorno Bipolar é uma doença cerebral. Algumas vezes oscilamos mesmo quando estamos medicados. Por isso é muito importante conhecer os seus limites para não gerar gatilhos e viver num ambiente salubre para sua mente.

Sofrer de Transtorno Bipolar é entender que sua vida vai ser diferente, porém não significa que vai ser ruim o tempo inteiro. É claro que existem momentos que oscilamos e as coisas podem ficar mais difíceis, eu mentiria se eu falasse o contrário. Mas existe estabilidade e quando se atinge, a vida é boa de verdade. E é preciso fazer tratamento terapêutico para saber aproveitar esses momentos, pois muitas vezes nos sabotamos por causa da doença.

Por essa razão é preciso ter atenção e cuidado com si próprio, se conhecer. O autocuidado é lei. Não é possível atingir a estabilidade se não se respeitar, se não cultivar o amor próprio. Não estou falando que é fácil fazer isso, mas é preciso ter iniciativa e gerar o hábito. Colocar sua saúde mental como prioridade é o primeiro passo para uma vida mais estável.

Nesses 3 anos eu tive algumas metamorfoses. Dia 23 de dezembro de 2019 eu renasci e desde então tenho o compromisso comigo mesma e com meu tratamento. Eu comecei a entender os reais efeitos colaterais dos medicamentos, já que eles foram consideravelmente aumentados e também percebi a necessidade de uma rotina mais saudável para o meu corpo, uma vez que não se trata a mente separada do resto.

Acho que nesse tempo a lição mais importante que aprendi foi de ser mais gentil comigo mesma. Ser mais paciente, ter mais compaixão e de me orgulhar das minhas conquistas, ainda elas sejam pequenas coisas do dia-a-dia. Saber que tenho limites, mas nem por isso deixar de sonhar e de correr atrás desses sonhos, porque sou merecedora e capaz de tudo aquilo que desejo para mim. Saber também que meu transtorno é que uma característica minha, mas não a minha essência.

Eu, na minha pose de Mulher-Maravilha