por Julia Green

Estava tudo indo tão bem. Até que veio um penhasco e caio em queda livre, me esborrachando no chão. Sinto as pedras entrando nas novas fissuras e abrindo antigos machucados. 

É assim o tempo inteiro. Minha estabilidade nunca durou tão pouco como dessa última vez. E, sinceramente, é cansativo demais. É deprimente demais.

Toda a minha rede de apoio diz que está tudo bem, que o tratamento não é linear, mas lá fui eu, mais uma vez, me automutilar. Sinto que andei 84 casinhas pra trás. Não parece um tropeço, como disse no início, me parece mais uma queda livre, porque dói demais estar aqui, na minha pele.

No momento, me sinto em desespero, porque eu já tomo SEIS medicamentos psiquiátricos, faço psicanálise religiosamente, tento viver uma vida saudável. Por que eu continuo dando errado?

Eu me sinto como um carro com defeito que bate num poste, dá ré, anda mais um pouco na rua, aí bate em outro poste, dá ré de novo, consegue andar mais um pouco, aí bate num terceiro poste. E assim vai. Eu falo pro meus familiares que sou um desastre ambulante.

Qualquer pessoa pode vivenciar uma oscilação de humor, mas para quem sofre de Transtorno Bipolar, a vida é uma montanha russa real. É da euforia brilhante ao lixo. Da estabilidade para as paranoias. A concentração e capacidade de raciocinar, do nada, somem. Aí se torna uma espiral de sintomas químicos e psíquicos, que você não consegue raciocinar direito, por isso se sente vazia, daí se sente cada vez mais ansiosa e deprimida, te incapacitando de fazer qualquer coisa.

Esse texto é pura emoção e sentimento, pois não consigo pensar em nada concreto há semanas, mas decidi desabafar aqui, afinal é um blog, serve pra isso. Fora que fico floreando nos meus textos, sendo good vibes, falando que dá pra dar a volta por cima, mas a real é que tem momentos, tem meses, que são muito difíceis.

Eu sei o que é depressão há 21 anos. Dia 28 de fevereiro fez 21 anos do meu primeiro grande gatilho. Carrego essa sombra comigo desde então e ela nunca se foi por um segundo se quer. No mesmo dia, 7 anos depois, tive o gatilho pro meu primeiro surto psicótico. Foi nesse momento que comecei meu tratamento psiquiátrico.

E uma coisa que eu aprendi nesse tempo todo é que tenho que contar a verdade pros profissionais que cuidam de mim, mesmo que isso seja difícil. E nesse momento estou muito triste em ter que contar como estou para o meu psiquiatra o que fiz comigo mesma. Ele diminuiu a dosagem de um dos meus medicamentos tem algumas semanas e fico com receio dele voltar atrás nessa decisão.

Mas no final das contas, eu só quero me sentir bem de novo. Não quero sentir mais esse espaço oco dentro de mim, quero poder produzir e ter orgulho das coisas que fiz. Não quero mais me sentir culpada por coisas que não tenho culpa ou me preocupar com situações que não tenho controle. Só quero me sentir leve.