Engraçado como é muito mais fácil, para mim, escrever no meio do caos. Eu encontro na escrita uma maneira de organizar os pensamentos, os sentimentos. E quando me deparo com a calmaria, me vejo perdida nas palavras.

Semana passada completei 35 anos e muitas coisas aconteceram dentro de mim. Não sou uma dessas pessoas que consideram o aniversário um ano novo, nem nada parecido. Realmente não ligo para isso. Mas a minha vida e os acontecimentos presentes me levaram a determinadas conclusões e percepções.

Eu sinto que amadureci nos últimos tempos. Amadureci, principalmente, a minha relação com o meu transtorno. Hoje estou estável e só consegui atingir a estabilidade, porque eu consigo ter mais compaixão e paciência comigo mesma. 

É um alívio ter a mente livre de pensamentos intrusivos ou não pensar sobre a minha saúde mental 24/7. Porque, às vezes, o transtorno nos consome o tempo todo, fazendo com que pensemos nele sempre, sem dar trégua. E não conviver com esses pensamentos tem sido maravilhoso.

Isso não significa que eu deixei de escutar minhas músicas indies deprês ou que deixei de ser esquisita socialmente. O Transtorno Bipolar faz parte de mim, mas não regula a minha vida, como já deixei acontecer anteriormente. Minha história moldou quem eu sou e, sim, a minha doença contribuiu muito, mas não me define. 

Eu realmente só lembro do transtorno no fim do dia quando tenho que tomar meus remédios. E ainda são muitos. Eu estou no processo de reduzir a quantidade, mas ainda tenho um time de 5 medicamentos psiquiátricos e 1 cardíaco para efeitos colaterais. É claro que não deixo de me medicar, mas confesso que fico indignada e até mesmo com raiva por precisar deles para estar bem.

minha medicação atual que tomo todas as noites

Percebi que o ano passado foi um ano de cura no meu tratamento. Um ano onde eu estava juntando os cacos que estavam todos espatifados. Muitos traumas e mudanças para serem tratados e digeridos e só agora me sinto capaz e confiante de tomar determinadas atitudes.

Junto com os meus 35 anos, a mortalidade bateu na minha porta. Percebi que quero passar mais tempo construindo algo para mim e tendo lazer de verdade. Passei por um tempo quase que apenas sobrevivendo e agora voltei a ter sede de viver, de conquistar coisas, sonhar sonhos novos e antigos.

Ainda luto contra a ideia de que meu corpo não está bom porque ganhei peso. É difícil quebrar um conceito criado pelo patriarcado para minar as mulheres. Depois que saí do armário com relação ao meu distúrbio alimentar, as coisas melhoraram bastante. Parei com determinados comportamentos e procurei ajuda. Aos poucos estou comprando roupas novas e reforçando novos hábitos. Quero ficar em paz com meu corpo e com a comida de uma vez por todas. É muito desgastante ficar pensando nisso, enquanto deveria ser algo simples e prazeroso.

O grande ponto de tudo é estar em paz comigo mesma. Fiquei cansada de estar sempre angustiada com questões imutáveis. Eu já li relatos de várias pessoas que sofrem do transtorno que também se sentem burras e vazias. Depois que eu vi que é uma característica da doença, eu tive compaixão comigo mesma, fui generosa e me dei tempo. O cérebro também fica fatigado. Parei de martelar as coisas na minha cabeça e, com ajuda da terapia, me permiti estar bem de verdade.

Desde que isso aconteceu a estabilidade fluiu. Não preciso mais de Rivotril, não tenho crise de ansiedade há meses, consegui diminuir a dosagem de um dos antipsicóticos que eu tomo, estou me exercitando regularmente, parei de fumar (tem 1 mês e 18 dias livre de nicotina), meu joelho melhorou muito e já posso andar de bicicleta. Eu realmente me sinto bem, num momento bem leve. E como disse minha terapeuta: e tá tudo bem estar assim. Não é nem um pouco estranho.