Eu mudei o blog de hospedagem e isso me deu um trabalho homérico, mas ao mesmo tempo, acabei passando por todos os posts, um a um. E reli o post do kraken e ele cai muito bem pro que sinto agora. Essa sensação de estar pilotando um barco no meio de uma tempestade.

Todos têm frustrações e decepções, é claro. Mas neste momento eu luto pra não deixar meus impulsos autodestrutivos falarem mais alto. Hoje em dia tenho um autoconhecimento que eu não tinha na época daquele post. Conheço melhor a mim mesma como ser vivo e também conheço melhor a doença.

Aliás, naquela época eu nem diagnóstico tinha. Pilotava o barco às cegas. Hoje em dia eu vejo a benção de saber o que eu tenho. Hoje tenho capacidade de saber que não estou só: estou em grupos do Facebook, leio revistas especializadas, me espelho em artistas renomados. Mas acima de tudo meu tratamento mudou de forma. Eu consigo identificar o que sou eu e o que é a doença.

É Transtorno Afetivo Bipolar ou Transtorno Bipolar de Humor, são os nomes dados ao que tenho. O que mostra que é um transtorno completamente ligado ao nosso emocional. Eu já entendi, por mim e pelo que vejo nos grupos, que sentimos demais. Tudo é demais. Quando estamos felizes, é maravilhoso estar na nossa pele, porque a química que rola aqui dentro é incrível. Mas quando estamos mal, é desesperador, exatamente pelo mesmo motivo.

Por algum tempo eu acordava e pensava “bosta, sou bipolar”, coisa que aprendi que é errado dizer. Eu não sou bipolar. Eu sofro de Transtorno Bipolar. A doença não me define. E as palavras têm muito poder. Não me importo em dizer que tenho uma doença mental, porque é a verdade. Tem pessoas que acham isso muito pesado. E se você se descreve de uma maneira, você realmente acredita que você é aquilo. Aprendi com uma amiga uma lição valiosa: eu não sou quebrada. Só não sou compreendida.

A única coisa que me difere da maioria das pessoas que estão nos grupos é que eu sofro de Bipolaridade desde criança. Eu não tive um gatilho pra doença. Tenho a sensação de que nasci assim. Eu não consigo lembrar de uma memória minha em que eu não estivesse ansiosa ou que eu não pensasse em morte ou pensasse na minha própria morte. Eu carrego essa angústia desde criança e meu primeiro episódio depressivo maior foi aos 14 anos. 

E quando penso nisso, confesso que às vezes me bate um desespero. De que essa angústia raramente se vai, em poucos momentos da minha vida me senti plena. Eu faço terapia há 15 anos e tem assunto que não canso de revirar.

Eu só sei que tenho dado o meu melhor pela minha saúde mental, mesmo sabendo que poderia ser melhor. Eu tento, todos os dias melhorar, mas tem dias que a doença é um pouquinho mais forte que eu. Mas eu estou disposta a não desistir. Como disse o post do kraken: é um barco que se pilota sozinha. Mesmo que hoje eu entenda o que é rede de apoio, quem comanda tudo isso aqui dentro sou eu. E muitas vezes, como já disse aqui, é muito solitário. A estabilidade é muito frágil. E nem sempre temos forças pra conseguir mantê-la. Às vezes aparece um kraken e nos afunda.