Depois de tantos meses, eu me sinto estável e pronta para dar passos mais largos na minha vida. Eu decidi assumir responsabilidades para essa fase e, confesso, que de vez em quando aparece uma voz interior falando que não vou conseguir e que não sou capaz, porém eu tenho várias vozes no exterior falando o contrário.

Mais uma vez a minha rede de apoio tem sido essencial nesse momento. Tanto para me dar suporte, como para me ajudar nos meus limites. Eu já queria abraçar o mundo e fazer mil coisas ao mesmo tempo, mas meu marido me alertou e colocou um freio nas minhas ideias.

Estou fazendo faculdade e curso de dinamarquês ambos à distância e as minhas sessões de fisioterapia do joelho começaram. Todas essas atividades exigem disciplina, pois tenho que estudar para a faculdade no meu horário, fazer os deveres de dinamarquês e praticar os exercícios da fisioterapia em casa. E por mais que eu goste de todas essas atividades, tem dias que eu me enrolo e acumulo tudo pro dia seguinte.

Além dessas coisas, eu tenho o resto da vida. Casa, gatos, vida social. Tem dias que eu realmente fico com o dia completamente cheio, porque não consegui administrar direito. Eu ainda estou me adaptando a essa nova rotina. E são nesses dias que a minha voz sabotadora aparece e me paralisa.

Procrastino limpando a casa ou apenas sentada no sofá olhando pro nada. Choro, desamparada, porque fico com a sensação de que estou sem rumo. Mas depois penso que nunca estive com os pés tão no chão como agora e que só preciso me acalmar. 

Às vezes tenho um dia ótimo e produtivo e me sinto muito satisfeita e orgulhosa do que fiz. E essa sensação me dá a tranquilidade e segurança que eu preciso. Tomar as rédeas da própria vida nem sempre é fácil, mas uma vez que se faz isso, a gente se torna indomável. 

Nesses quase 3 anos morando aqui, é a primeira vez que tenho uma rotina consolidada e estou empolgada e assustada ao mesmo tempo. Ficar flutuando, sem saber o que fazer é horrível. Me deu abertura para muitas paranoias, muitos momentos de invalidação. Porém, me dei tempo para estar bem e tomar esses passos que estou tomando agora.

Por exemplo, eu tentei aprender dinamarquês nos cursos tradicionais daqui. Tentei 3 vezes e não consegui. Tive alguns problemas, mas o principal é que não consigo aprender um idioma, pelo menos no início, no esquema que eles propõem. As atividades em sala de aula são todas em grupo e isso tira todo o meu foco.

Tomei uma birra com o idioma, me sentia burra. Mas estou morando aqui e preciso aprender de alguma forma. Apareceu no grupo de brasileiros na Dinamarca do Facebook esse professor brasileiro com aulas particulares e entrei em contato. E estou adorando as aulas. Finalmente me sinto conectada com a língua. Tenho feito esforço para falar coisas mínimas e tenho traduzido tudo o que vejo pela frente pra saber o que estou lendo.

Eu acredito que precisei de um pouco de maturidade para entender que eu precisava de um professor particular. Que não vou aprender como a maioria, nos cursos tradicionais e tudo bem com isso. Na hora que eu me sentir mais confiante, eu entro no curso para poder exercitar conversação. Mas, por ora, achei o meu caminho e estou muito satisfeita por isso, pois passei muito tempo me culpando por não conseguir ser como os outros.

Ter uma rotina nova é sempre um desafio. Principalmente pra quem tem problemas de concentração e muitas vezes as medicações deixam o cérebro enevoado. Mas ao mesmo tempo é empolgante e nos dá esperança de que coisas melhores virão. Eu me agarro nas palavras da minha rede de apoio para calar a minha voz sabotadora e dessa forma consigo seguir em frente.